Município: Santo André/SP
Tema: 08 - Saúde Mental, Álcool e Outras Drogas
Autor(es)
Marcella de Oliveira
Patrícia Romano
Marcos Vinícius Cordeiro da Silva
Giovanna Sandrini
Apresentação/
Introdução:
Apresentação/Introdução:
Entende-se ambiência na saúde como espaço físico, social, profissional e de relações interpessoais direcionados ao projeto de cuidado voltado para a atenção acolhedora, resolutiva e humana, conforme a PNH. Uma de suas diretrizes é a valorização da ambiência, com organização da confortabilidade dos espaços, sob a perspectiva da transversalidade e da indissociabilidade de atenção sensível e gestão em projetos cogeridos, que visem, contribuir na transformação das relações de trabalho e cuidado. A proposta, da qual se trata este resumo expandido, iniciada no início de agosto de 2023, utiliza diretrizes constantes na Portaria nº 3.088/2011 – Rede de Atenção Psicossocial e da PNH de 2013, como princípios norteadores na intencionalidade da composição da ambiência/convivência, instalando no CAPS III Joaquim Avamilano, a reconfiguração espacial, em relação à disposição da mobília, cores dos espaços, artes visuais produzidas e na maneira de facilitar as relações interpessoais e o exercício de habilidades psicossociais, no modo como a ambiência se dispõe para propiciar a convivência. Nesse sentido, compreende-se ambiência e convivência como complementaridades instaladas em um continuum. A justificativa se inscreve como matriz da proposta, considerando que o modo como estão dispostas as cadeiras, mesas e outros objetos podem determinar e controlar os movimentos dos corpos, codificando a forma de atuação no espaço que viabiliza o estabelecimento de relações de poder, hierarquizando-as.
Objetivos
: Objetiva-se protagonizar e acolher os corpos em trânsito no serviço, apreendendo o corpo como sinônimo de pessoa, em um conceito fundamentado na Teoria Corpomídia, que considera as singularidades, complexidades e características destes. Possibilitando, ainda, o reconhecimento dos desejos dos usuários, a facilitação da resolutividade dos conflitos, a mobilização do papel ativo da pessoa em cuidado, a criação de propostas diferentes para a convivência entre profissionais e usuários, viabilizando proximidade e favorecendo a circulação do sujeito no território. A proposta também visa reconhecer o espaço e desenvolver a confortabilidade, como ferramenta presente no processo de trabalho e no cuidado. Dessa maneira, articulam-se encontros entre os corpos e acolhimento, construindo ambiente que interage com as pessoas, através da cor, a luz, as texturas, os sons e a inclusão da arte nas suas mais diferentes formas de expressão.
Metodologia
Instalou-se no CAPS III Joaquim Avamilano no Município de Santo André/SP o uso de cadeiras em formato circular nas salas de atendimento, reuniões e recepção além de outros recursos técnicos implementados no miúdo do cotidiano do serviço: 1- Programação da televisão de acordo com temáticas abordadas na semana pelos grupos (avaliar quais emoções, sentidos, lembranças e comportamentos em relação ao que se assiste; análise de desejos e necessidades das pessoas que não se identificam com o proposto, buscando estratégias para acolhê-las - importância de mais de um técnico em convivência); 2- Colocar músicas ou karaokê escolhidas por conviventes (compreender, ao menos um, critério de escolha da música; avaliar tecnicamente conviventes se relacionando com música escolhida pelo próprio ou por outro); 3- Reconhecer se há convivente (inclui quem está à espera de atendimento) ansioso e angustiado em relação à dinâmica do serviço (realizar manejo de situação ofertando escuta, por exemplo, para colher informações e avaliar se é possível adotar outro recurso); e 4- Sistematização das práticas de intervenção da convivência, partindo de uma temática mensal a qual direcionará temas de discussões ou outras ações de cuidado.
Resultados
A percepção ambiental e quando utilizados com equilíbrio e harmonia, propiciam ambiências acolhedoras contribuindo no processo de produção de saúde e espaços saudáveis. Nesse quesito, a transformação da instalação e facilitou as relações interpessoais e o exercício de habilidades psicossociais, no modo como a ambiência se dispõe para propiciar a convivência. Assim, favorecendo o acolhimento, um espaço mais confortável e a experiência coletiva, potencializadas e apoiadas na sistematização metodológica, na avaliação técnica multidisciplinar e nas estratégias de intervenção com intencionalidade. Pontua-se, que a reconfiguração da disposição de cadeiras e mesas para além da perspectiva de estrutura física acompanhou as diretrizes da RAPS e da PNH e propiciou o protagonismo, o acolhimento e a qualificação do cuidado. Como resultado quantitativo, observou-se nas ações de reabilitação psicossocial registradas em dados do Registro das Ações Ambulatoriais de Saúde (RAAS) consubstancial alteração, visto que em agosto há 3.488, em setembro 5104 ações, em outubro, 5638, e em novembro, 9444. Neste último mês houve a implementação de temas transversais nas ações de cuidado, cuja temática foi as relações étnico-raciais e a luta antirracista. Finalizou-se o ano de 2023, no mês de dezembro com 6.257, considerando-se a excepcionalidade nas ofertas coletivas diante das festividades do final de ano, com suspensão de grupos e oficinas terapêuticas.
Conclusões
Os componentes da presente experiência atuam como qualificadores e modificadores do espaço, estimulando qualificação do cuidado em saúde mental, priorizando a garantia dos direitos humanos, com a proposta de ambiência e convivência sistematizada, contribuindo com a instrumentalização para o conviver com as diferenças, que é uma forma da própria preservação da vida, segundo a Teoria da Evolução. Tal perspectiva conduz para a apreensão do dispositivo da ambiência/convivência, que segundo a PNH sistematiza o espaço físico com articulação do encontro entre pessoas, possibilitando a criação de espaços coletivos para a discussão dos projetos e intervenções. Nesse sentido, a intervenção no espaço físico está além da arquitetura prescritiva, que diz o que pode ou não ser feito, e sim, como proposta da humanização que possibilita a inclusão de diferentes formas de transformação na ambiência, que favoreça a problematização sobre os modos de operar, as práticas instituídas e os processos de trabalho nesse espaço, para o aumento da capacidade do cuidado e a construção de novas situações no cuidado na Atenção Psicossocial, relações de trabalho e convivência.
Palavras-chave
PNH, Ambiência, Saúde Mental, CAPS