Município: Atibaia/SP
Tema: 08 - Saúde Mental, Álcool e Outras Drogas
Autor(es)
Daniel Henrique de Souza Firmino
Angela Yuri Koketsu
Fernando Augusto Vaquero dos Santos
Juliana de Oliveira Figueiredo
Eva Talita Candido
Deise da Mota Pimenta
Grazielle Cristina dos Santos Bertolini
Apresentação/
Introdução:
Apresentação/Introdução:
Neste trabalho apresentamos parte do percurso no qual se criou uma ferramenta para apoiar as equipes de Saúde Mental de Atibaia na reorganização do apoio matricial a partir de mudanças na gestão da Secretaria de Saúde com consequente reinvestimento nas redes de saúde, da retomada das reuniões da Rede de Atenção Psicossocial (RAPS) municipal após a pandemia, da realização da I Conferência Municipal de Saúde Mental e da elaboração da Linha de Cuidado de Saúde Mental. A RAPS do município podia ser caracterizada em 2022 como fragmentada, com serviços especializados de Saúde Mental fechados em suas dinâmicas de trabalho, dificultando o acesso da população, o cuidado compartilhado e seu relacionamento com outros pontos das redes intra e intersetorial. Na Atenção Primária à Saúde (APS), predominantemente, o cuidado se dava por consulta médica e prescrição medicamentosa, havendo pouco investimento no cuidado integral dos usuários e um elevado número de encaminhamentos. O apoio matricial se dava de forma fragmentada, sem a participação sistematizada de todos os equipamentos de saúde. Com a rede de saúde fortalecida com mais profissionais e serviços, passaram a ser realizados esforços para a reorganização da RAPS. Durante esse processo, foram identificadas dificuldades relativas ao matriciamento, devido a divergências entre trabalhadores e equipes em termos de concepção, compreensão, objetivos e métodos. Nesse contexto propôs-se a oficina de matriciamento com o uso do jogo REDE-MOINHO.
Objetivos
Considerando os esforços realizados nos diferentes espaços de diálogo sobre Saúde Mental e a dificuldade para se conseguir aprofundar o tema e fomentar a (co)responsabilização das equipes envolvidas e a operacionalização de medidas que promovessem o cuidado compartilhado, integral e no território, buscou-se criar recursos por meio das reuniões da RAPS e sobre a Linha de Cuidado de Saúde Mental para que o matriciamento fosse recolocado como instrumento para o fortalecimento da APS, conforme estabelecido pelo Ministério da Saúde, tendo a sua finalidade ampliada para além de encaminhamentos e discussões sobre queixa e conduta a serem conduzidas pela especialidade. O jogo REDE-MOINHO foi criado como ferramenta para ser usada, inicialmente, em um espaço de formação denominado como oficina, que teve como propósitos proporcionar reflexões, trocas e alinhamentos e estabelecer uma base teórica comum de atuação para nortear as equipes de SM nas ações de apoio matricial.
Metodologia
Entre junho/2022 e janeiro/2024 foram realizadas cerca de 19 reuniões da RAPS e 5 reuniões sobre a Linha de Cuidado de SM. O número de participantes e os participantes variaram, sendo que apenas uma minoria participou de forma contínua ao longo desse período. Participaram representantes da Atenção Especializada (AE), da APS e da rede intersetorial. Em setembro de 2023, o grupo responsável pela Linha de Cuidado, que vinha trabalhando um documento que descrevia fluxos e protocolos, constatou que por aquele modelo de trabalho não estava atingindo o seu objetivo, pois parte do que estava em jogo dizia respeito ao pouco conhecimento das diretrizes do trabalho em saúde mental no SUS. Tendo relevo nisto, concepções e práticas sobre matriciamento em SM. A partir disso, foi elaborada uma oficina para os profissionais de saúde mental da AE como espaço de formação sobre apoio matricial e Saúde Mental na APS, foram utilizados como recursos uma apresentação expositiva e uma partida do jogo, seguidas por uma roda de conversa. O REDE-Moinho constitui-se em um jogo no qual trabalhadores agrupados em torno de casos fictícios utilizam cartas que representam pontos da RAPS e da rede intersetorial para a criação de uma oferta de cuidado. A proposta é a de buscar promover o (re)conhecimento e o debate acerca dos recursos existentes no território, além de reflexões sobre cuidado integral, determinantes de saúde, limites e possibilidades de atuação e colaboração, protagonismo e autonomia.
Resultados
A oficina sobre apoio matricial aconteceu em outubro/2023 e contou com a presença de quase 50 trabalhadores e gestores dos seguintes serviços: e-Multi, CAPSII, CAPSad, CAPSij, Ambulatório de Saúde Mental e APAE, além de gestores centrais responsáveis pela APS e pela AE. Tratou-se de um encontro potente, que mobilizou forças ao propor que trabalhadores de diferentes unidades se reunissem para uma tarefa comum. O REDE-Moinho foi jogado por seis grupos e cada um deles se comportou de uma maneira, alguns com amplos debates ainda na fase de compreender e executar os passos do jogo. Durante o compartilhamento das experiências vividas, ficaram nítidas ideias conflitantes, por exemplo, sobre a necessidade de instituições fechadas (como as Comunidades Terapêuticas) ou sobre o papel de determinado equipamento (como o Consultório na Rua, inexistente no município). Ficou marcado pelos próprios participantes da oficina seu desconhecimento acerca dos pontos de atenção das redes intra e intersetorial, além do modo de funcionamento e fluxos dos mesmos. Foi bastante apontada também a escassez de espaços garantidos para encontros presenciais e processos de educação permanente. A oficina foi encerrada com a apresentação de uma nova proposta de operacionalização do apoio matricial, a ser implementada a partir do mês seguinte, abrangendo todas as 18 UBS/USF do município, com encontros bimensais entre as equipes de referência (APS) e representantes de todos os serviços especializados de SM.
Conclusões
O jogo se mostrou promissor na medida em que gerou fissuras na percepção dos participantes sobre rede por meio das cartas e das trocas, foi possível a (re)descoberta de alguns serviços, viabilizando novos olhares para os recursos disponíveis para o cuidado. Houve momentos de tensão entre os participantes, repetindo-se ali as posturas de resistência e insegurança comuns nas relações. Surgiram também dúvidas e confusões quanto ao jogo, que levaram a sugestões de aprimoramento das regras e das cartas. O percurso descrito constitui uma mostra de um processo coletivo criativo gerado no encontro de percepções sobre problemas comuns a todos os envolvidos. Diante da necessidade constante de fortalecer a RAPS, de modo articulado com a rede intersetorial e demais recursos do território, destacou-se a importância do apoio matricial em saúde mental. Obstáculos foram reconhecidos e respostas para o seu enfrentamento nasceram. O objetivo final - o tecimento da rede - realiza-se e renova-se cotidianamente, uma vez que a rede não existe em si e, sim, no encontro entre pessoas - usuários, trabalhadores e gestores. Seguir implementando o SUS, a RAPS e a luta antimanicomial requer composições que não se eximem de tensionamentos e demandam diálogo.
Palavras-chave
Apoio matricial; Saúde mental; Jogo REDE-Moinho